quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ao Mestre, com carinho

O mestre não deve apenas pegar os discípulos pela mão e conduzi-los pelas estradas tortuosas da vida. Ele deve, obrigatoriamente, tirar-lhes dos caminhos todas as pedras que podem ferir-lhes os pés.
Pelo menos essa é a visão dos alunos.
Ou parte deles.
Nesse sentido, essa realidade hipotética pode ser explicada pelo fato de que pelo tempo em que os alunos (mal)acostumados com um sistema que premia os espertos e pune os manés, os CDFs encontram pela frente professores também (mal)preparados nesse mesmo sistema, tudo corre ‘bem’.
A simbiose entre ambos é perfeita. Perfeita?! Será?
A lista de freqüência às aulas está sempre preenchida, embora nem sempre demonstre a realidade dessas salas de aulas; as notas sempre azuis, embora o conhecimento – alvo basilar dos estudos – permaneça no vermelho.
E por aí vai...
Saindo um pouco das salas de aulas como são conhecidas, sem nos distanciarmos muito do tema, vê-se o mesmo na política, nas relações sociais, nos locais de trabalho... como se a cidade fosse uma imensa sala de aulas. E no mundo globalizado, como é o de hoje, por que não estender a possibilidade por todo o planeta? Creio que não seria pecar pelo exagero.
Mas, voltando à sala de aulas – onde nosso problema começa –, cabe analisar o aspecto pelo ponto de vista dos alunos que freqüentam as aulas ávidos de conhecimento. Que postura adotam ante as mentes inegavelmente (mal)preparadas?
Sofrem. Mas procuram por todos os meios superar os obstáculos com vontade férrea de aprender. E, no fim, de um jeito ou de outro, vencem.
Por outro lado, resta pensar no reverso, ou seja, quando o mestre procura transmitir todo o seu conhecimento e os alunos, renitentes, permanecem no desejo de apenas buscar notas.
Quando se encontram o choque é inevitável. De um lado, o professor procura ser simpático, e para não causar grandes traumas, já nos primeiros dias explica seu método de trabalho, avisando, todavia, que dele não se afastará nenhum milímetro, nem para a esquerda nem para a direita, mesmo que os alunos reclamem seus direitos.
Desdobra-se em demonstrar que aprender é possível, mas não nega a necessidade de o estudante arregaçar as mangas e se esforçar ao máximo, mesmo que lhe doa.
Que fazer, porém, para evitar o conflito?
O professor sabe que, se desistir, seus alunos não conseguirão avançar. Estarão entregues a si mesmos. Estes, todavia, não querem sofrer tanto. Almejam o fim do curso, receber o diploma, pois assim estarão qualificados para o mercado de trabalho.
Dentre estes, alguns pensam, e nisto se equivocam, que um pedaço de papel que ateste que obtiveram notas azuis num determinado curso, dar-lhes-á condições de enfrentar e superar as dificuldades que a vida se lhes apresentará.
Mas nem tanto. Pensam já, e isto enquanto devem ainda ocupar as cadeiras escolares, que sabem mais, muito mais que o mestre. E que este, para eles, não passa de um boçal, que não tem didática, cuja aula é uma deprê imensa, por isso, a elas não comparecem.
Equivocam-se, ainda, quando pensam que a prova aplicada é a mesma do exercício anterior, a qual conseguem com quem a ela já enfrentou, bastando-lhes, tão somente, transcrever o gabarito.
A quem enganam, pois? Ao mestre? Ao diretor? A si mesmos?
A resposta a esse questionamento não é única, pois são tantas quantos são os que ocupam os bancos escolares, seja no início da vida estudantil, seja no último ano de graduação. Cada um responderá por si.
E o mestre, como vê tudo isso?
Limita-se a recordar a velha lição: “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Por fim, cabe uma explicação. Esta página não recebeu título. E isto de propósito. Nem é, também, um diálogo com o filme estrelado pelo grande Sidney Pottier. O que seria, naturalmente, um descaso, pois longe está a intenção da página em igualar-se ao filme. Porém, e bem modestamente, representa uma homenagem a todos os mestres que, honradamente, me ensinam (ou pelo menos tentam ensinar) alguma coisa.
Muitas vezes a lição foi difícil de ser assimilada. Se fosse possível fazer uma comparação, muitas delas podiam ser semelhantes à chibata que cortava as costas (ou lombos) dos escravos levados ao Pelourinho. Diria mesmo, doíam mais, embora não conheça a dor que sofriam os pretos escravos quando açoitados.
Mas conheço bem o quanto pode doer a dura realidade de uma sala de aulas.
A todos, portanto, meu carinho.

LUA

Olho para a Lua

e vejo teu rosto:

Sinto da boca tua

do beijo o gosto

CARA DE LUA

Cara de lua, minha lua cara
tem pena de um coração onde vaga
imenso quasar a dor aziaga,
essa ausência de um amor - joia rara.